Nascidos de um ato de amor
Criados na benção do senhor
Tendo sido alimentados
Na bolsa que foram gerados
Receberam todos os cuidados
Foram amamentados e embalados
Em seios fartos de amor.
Em seios de mães dedicadas
De mães preocupadas
De mães amorosas
E mães valorosas
Foram a escola
Jogaram bola
Rodaram pião
Cantaram canção
Chuparam limão
Quebraram vidraça
Rolaram na praça
Riam na praça
Cheios de graça
Eram inteligentes
Crianças inocentes
Hoje adolescentes
Ainda são inocentes
Mas já conhecem a rua
Nua e crua
Desprezam os conselhos
Da mãe dedicada
Desprezam os caminhos
Que lhe são ensinados
Desprezam os cuidados
Veio o primeiro convite
Ali na praça
Já não é mais suco
Agora é cachaça
Mamãe não via
Mas os amigos sabiam
Quando vão pro quarto
Não bebem cachaça
Deitam na fronha
E fumam maconha
Quando vão a praia
Não fumam maconha
Fazem rima
E cheiram cocaína
Acabou a inocência
Acabou a presença
Acabou a alegria
Sumiu a mãe
Sumiu a tia
Sumiu o pai
Sumiram os amigos
Acabou tudo
Agora é crakudo
Só
Sem pai e mãe
Acabou a graça
Vivem na praça
Em meio a desgraça
Maltrapilhos e sujos
No meio da praça
Sem perspectiva de vida
Só muita desgraça
Viraram zumbis
No meio da praça
Trapos humanos
Muito sem graça
Só vejo tristeza
Em volta da mesa
O filho crakudo
Acabou com tudo
Vendeu a geladeira
Vendeu a televisão
Vendeu o botijão
Também o fogão
Mas ainda há esperança
De cura para esta criatura
E mudança de vida
Sem nenhuma loucura
Internando o crakudo
Sairá uma nova criatura.
Autoria: José P. Dias